Morada

Gabriela
1 min readMay 11, 2021

Um dia me perguntaram:
- Onde você mora?
E até se espantaram
quando respondi: E agora?!

A verdade é que eu moro naquele prédio,
na esquina do silêncio com o tédio.
Moro sozinha, então não se espante
com o vazio dos armários e da estante…
Pode vir me visitar,
mas, por favor, não repara na bagunça esquisita…
É que eu ainda não terminei de limpar
os resquícios da última visita.
E, talvez, mesmo depois de limpo,
você encontre algo de baixo do meu sofá,
alguma coisa que caiu ou que eu mesma joguei lá.
Eu moro entre tantas memórias…
Nas caixas do chão da garagem
você encontra várias histórias,
mas é tudo bobagem agora,
coisas que eu realmente preciso colocar fora.

Divido espaço com a solidão e
de vez em quando aceno pro vizinho,
mas eu já cheguei a conclusão que
tem que ser muito inteiro pra ser sozinho…

Tantos acham que é anormal
conviver cordialmente
com o vazio existencial
e eu me sinto tão completo assim
que eu nunca sei se moro no universo
ou se ele que mora em mim.

Só por isso eu sei
que minha vida é cobiçada,
porque “eu moro em mim
e ô casa bagunçada…”

A frase utilizada no poema tem a autoria de Líria Porto :)

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