Nessa vida ainda

Gabriela
2 min readMay 3, 2022

Perdi o sono no meio daquela madrugada e me dei conta de que chovia no lado de fora. A tempestade parecia refletir meu interior. Impaciente, abri minhas redes sociais, pensando sobre a quantidade de pessoas que finge uma vida que não têm. Mas e daí? Eu sou uma delas.

Li uma publicação que dizia que as únicas pessoas acordadas essa hora estão apaixonadas ou têm o coração partido. Então, inspirado, comecei a escrever no blog que ninguém nunca lia:

“Não me olhe com essa expressão convencida, de tanta certeza acerca da minha suposta felicidade. Sorrisos alegres te enganam, eu sei bem, mas a realidade passa em um lugar tão longe e sombrio de mim, que teus olhos não alcançam. Não se contente com aquilo que você enxerga. A verdade fica muito além do que teu ingênuo olhar vê. Perdoe a desconstrução das tuas construções sobre mim, é tão fácil te enganar que eu quase te convenci de que eu sou feliz. Mas estou te dizendo a verdade, porque me dói te ver na cegueira, crente de que devo ser alvo da tua admiração, da tua inveja. Nessa vida tenho certeza que nunca vou sentir nada.” — sobre parecer ser.

No dia seguinte, quando cheguei em casa, encontrei uma resposta nos comentários:

“Não tenho resoluções para a minha própria vida como não tenho para as tuas. Sei que não é isso que tu espera de mim. Talvez um conforto, talvez um acalento, talvez um desabafo mascarado, ou talvez, ainda, toda essa minha vontade de divagar escrevendo sobre resoluções da vida, seja uma tentativa própria (e falha) de propiciar uma fajuta felicidade pra alguém (e pra mim mesma) mesmo sabendo que isso é impossível. Eu diria que ser feliz é a coisa mais desesperadora da vida. A vida em si já é uma angústia e perceber ela como tal possivelmente vai te ajudar a entender que não, não há resposta pra vida, nem pro amor, nem pra felicidade. A certeza é a morte, a busca é por ausência de sofrimento e percurso é fodido por não ter resposta. Espero um dia te conhecer e poder ver teus lindos sorrisos (mesmo que raros) algumas vezes, porque por alguns segundos eu vou saber que tu te sente feliz.”

Encarei as palavras por dias antes de ter coragem de tecer qualquer comentário. Talvez eu nunca tivesse.

Mas nunca consegui deixar de pensar que talvez, nessa vida ainda, eu pudesse amar.

Li uma publicação que dizia que as únicas pessoas acordadas essa hora estão apaixonadas ou têm o coração partido.

E eu estava me apaixonando pelo seu coração partido.

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